Atribuo, muitas vezes inconscientemente, significados imaginários às coisas. Então a realidade me puxa pelas canelas, e meus pés sentem o baque no chão.
Olhadas de baixo, de dentro da caixa de vidro, as impressões anteriores não parecem nada mais do que nuvens. Nuvens de poeira, mas também de ar e água. As mais escuras são ofuscadas pelas coloridas; as mais dissolvidas acrescentam leveza às pesadas.
E tem a caixa. Limitada pela minha própria razão. Não é de um vidro qualquer, mas do mais sólido e incerto, composto artesanalmente de desconfiança, senso crítico e autoironia – quase uma vitrine espelhada. Um bom lugar para se esconder das tempestades, sem dúvida. O problema é que eu gosto do cheiro da chuva.
É doloroso abrir mão das “ilusões”. Muitas vezes é preciso aceitar que, sim, aquilo é fantasia e existe apenas nos cômodos mais enfeitados da mente. Por outro lado, viver sem esperar nada não é reconfortante. E, por mais que a cabine dê a sensação de estar no controle de tudo – principalmente das emoções, o ar que permanece contido – no piso dela está escrito “você está mentindo para si mesma”.
Porque nem sempre as nuvens são apenas nuvens. Quem sabe? Às vezes, por sorte, elas são pedaços palpáveis e macios de algodão.
(Texto escrito em 2012, sem alterações.)
belo texto – um prazer desta leitura leve e confortavel , me fez bem !!!!
Puxa, que bom saber disso! Era a intenção 🙂
Obrigada e um abraço!